quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Dallas Buyers Club (2013)


A primeira cena começa e estamos dentro da arena. A arena da sorte ou do azar, aquela em que a adrenalina choca com o prazer e a desgraça, onde o nosso protagonista acaba por se perder. A sequência arranca com uma cena contida de sexo, onde Ron Woodroof (Matthew McConaughey) vê, no pico do seu êxtase, um colega de rodeo cair inconsciente na areia. Cara de espanto a sua ao pensar na desgraça violenta brutal que aquele pobre coitado sofreu, sem se aperceber da miséria silenciosa e mortal para a qual caminhava.

Ron, uma das melhores e mais vivas (no sentido figurado da palavra) personagens em tela este ano, um texano com CAPITAL T, conservador, religioso, cavaleiro de testosterona e claro… homofóbico. Todo o seu hábito de vida, misturando drogas, sexo e álcool, acabam por levá-lo para a pior doença do séc. XX. Contrai aquela que outrora fora a doença dos homossexuais e vê-se metido num dos maiores e mais doentios círculos lobyistas da história da civilização. A guerra contra a SIDA e a guerra contra os cruzados (indústria farmacêutica) que espalham a mensagem de salvação enquanto desbastam a espoliam os miseráveis.
Ao longo do filme vemos um Matthew ACTOR, um desempenho espectacular, não só pela transformação física evidente, mas pela profundidade emocional de Woodroof que vê a vida diminuir-lhe a cada fôlego. Parte em luta contra a única indústria que o pode salvar e acaba por mobilizar a sua própria igreja de redenção, Dallas Buyers Club, onde os infortunados pela doença podem adquirir verdadeiros tratamentos e qualidade de vida enquanto ainda a sentem.


Para além da óbvia mensagem contra o lobying e os interesses económicos destrutivos e dementes na “indústria” da saúde (“like it or not, this is business” - Dr.Sevard), vemos um toque, uma aproximação ao tema da aceitação da homossexualidade numa comunidade que se quer mais aberta e tolerante, não estivéssemos nós a falar do Texas. Para isso, aparece Rayon, um Jared Leto disfarçado nos seus traços femininos, com uma identidade única que acaba por seduzir e ameigar o fim de vida de Woodroof. Acabando este por aceitar e tolerar, dentro dos seus moldes, aqueles que via como os verdadeiros doentes e merecedores da agonia que lhe atravessa as veias. Uma das melhores duplas dos últimos tempos, merecedores de reconhecimento pela química e pela sua afirmação na carreira.

Gostei bastante do filme, é sobretudo uma obra de performance, mas que carrega alguns pontos frágeis no argumento. Não deixando de ter os seus momentos bastante emotivos.



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