A primeira cena começa e estamos dentro da arena. A
arena da sorte ou do azar, aquela em que a adrenalina choca com o prazer e a
desgraça, onde o nosso protagonista acaba por se perder. A sequência arranca
com uma cena contida de sexo, onde Ron Woodroof (Matthew McConaughey) vê, no
pico do seu êxtase, um colega de rodeo cair inconsciente na areia. Cara de
espanto a sua ao pensar na desgraça violenta brutal que aquele pobre coitado
sofreu, sem se aperceber da miséria silenciosa e mortal para a qual caminhava.
Ron, uma das melhores e mais vivas (no
sentido figurado da palavra) personagens em tela este ano, um texano com CAPITAL T, conservador, religioso,
cavaleiro de testosterona e claro… homofóbico. Todo o seu hábito de vida,
misturando drogas, sexo e álcool, acabam por levá-lo para a pior doença do séc.
XX. Contrai aquela que outrora fora a doença dos homossexuais e vê-se metido
num dos maiores e mais doentios círculos lobyistas da história da civilização.
A guerra contra a SIDA e a guerra contra os cruzados (indústria farmacêutica)
que espalham a mensagem de salvação enquanto desbastam a espoliam os
miseráveis.
Ao longo do filme vemos um Matthew ACTOR,
um desempenho espectacular, não só pela transformação física evidente, mas pela
profundidade emocional de Woodroof que vê a vida diminuir-lhe a cada fôlego.
Parte em luta contra a única indústria que o pode salvar e acaba por mobilizar
a sua própria igreja de redenção, Dallas Buyers Club, onde os infortunados pela
doença podem adquirir verdadeiros tratamentos e qualidade de vida enquanto
ainda a sentem.
Para além da óbvia mensagem contra o
lobying e os interesses económicos destrutivos e dementes na “indústria” da saúde
(“like it or not, this is business” - Dr.Sevard), vemos um toque, uma aproximação
ao tema da aceitação da homossexualidade numa comunidade que se quer mais
aberta e tolerante, não estivéssemos nós a falar do Texas. Para isso, aparece
Rayon, um Jared Leto disfarçado nos seus traços femininos, com uma identidade única
que acaba por seduzir e ameigar o fim de vida de Woodroof. Acabando este por
aceitar e tolerar, dentro dos seus moldes, aqueles que via como os verdadeiros
doentes e merecedores da agonia que lhe atravessa as veias. Uma das melhores
duplas dos últimos tempos, merecedores de reconhecimento pela química e pela
sua afirmação na carreira.
Gostei bastante do filme, é sobretudo uma obra
de performance, mas que carrega alguns pontos frágeis no argumento. Não
deixando de ter os seus momentos bastante emotivos.
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