Locke é sem dúvida um
filme que vale a pena ver. Sim, é verdade que é, como no trailer, inteiramente
passado dentro de um carro. Sim, é só a interacção de um único actor, em forma
física, com uns outros tantos por telefone. Não, não é uma seca. Pelo
contrário, é um filme que desde início prende o espectador ao ecrã.
Ivan Locke (Tom Hardy)
é um bem-sucedido Director de construção que tem em mãos tanto a maior das
obras que a sua carreira profissional lhe poderia oferecer, como a queda da
maior edificação da sua vida familiar. Ivan vive atormentado com a sua não
relação com o pai e, por isso, é obcecado em viver a vida nos limites éticos e
morais de qualquer código de conduta e honra. Mas como não passa de um comum
mortal Ivan tem um pequeno deslize. Alegoricamente, como explicado no filme
aquando uma conversa entre Ivan e o seu encarregado, esse pequeno deslize pode
ser visto como uma pequena fenda na fundição de um prédio. À medida que vamos
acrescentando peso ao edifício, a fenda vai aumentando até ao ponto de fazer
cair toda a estrutura. Neste caso, a fenda aparentemente já estava criada na
vida de Ivan desde nascença. Tal como o próprio afirma “concrete is blood!”, o
que nos diz que a natureza do seu pai acompanhou-o para a vida e que quanto
mais Ivan escalou na hierarquia familiar e social, maior foi a sua queda.
É uma obra que prima
pelo excelente e incontornável desempenho de um Tom Hardy que há muito
precisava de um papel neste registo. Do trabalho que conheço de Hardy, este
talvez será o seu melhor com a excepção de Bronson. É uma obra de aprimorada
gestão de espaço, tempo e emoção, que consegue suportar toda a estrutura e entregá-la
com sucesso ao espectador. Talvez este tenha sido o triunfo de Steven Knight.
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