terça-feira, 29 de abril de 2014

Happy Birthday #1 - Daniel Day-Lewis

Parabéns ao homem que cada vez que aparece na tela torna o visionamento do filme um evento especial. Aquele que já é considerado um dos melhores de sempre.


domingo, 27 de abril de 2014

No obligation at all - Disney aos meus olhos

“We have no obligation to make history. We have no obligation to make art. We have no obligation to make a statement. To make money is our only objective.” – Michael Eisner, Disney CEO (1984-2005)

Não sou fã da Disney, não gosto da imagem que a empresa transmite, não gosto do monopólio do entretenimento que o grupo quer seguir e não me identifico com os valores entregues nas suas principais obras de animação. No entanto, cresci e vi crescer esta marca ao longo dos anos. Vi cada filme Walt Disney Studios que saía nos cinemas e, como a maioria das crianças portuguesas, “aprendi” com eles e fui moldando a minha personalidade aos role models que encontrava a dada altura. Ao longo do tempo e com pilar na reflexão critica que não se tem tão viva enquanto criança, fui tomando nota daquilo que via noutros filmes e na diferença que essas obras tinham em relação àquelas que via enquanto miúdo. Apercebi-me da existência de determinados aspectos menos felizes nas obras da maior fábrica de sonhos do mundo e é sobre isso que vou falar aqui neste meu canto.

Desde que comecei a ver cinema de animação de outras produtoras fui-me apercebendo que os filmes que nos são incutidos toda a infância têm uma cultura de valores errada. No sentido de não desenvolverem nem aproximarem as crianças dos valores morais, éticos e sociais que deviam enquanto obras de entretenimento infantil. Este artigo não é uma teoria da conspiração. Trata-se de retirar de um conjunto de personagens o seu valor simbólico e interpretá-lo, nada mais.

Role Models para as meninas:
Na base das estórias encantadas que a Disney interpreta nos seus filmes, está a figura Princesa. Talvez a personagem mais icónica da marca logo a seguir ao famoso Rato e, talvez, a que transmite os piores valores para as crianças. Porquê? A Princesa Disney é “perfeita”, caracterizada por traços que tentam ser exemplos da beleza feminina. É ingénua, bonita, tem o corpo perfeito e rosto simétrico, olhos grandes, sensual, educada, apaixonada, prendada e, mais importante, precisa desesperadamente de um homem para a salvar. Não são personagens inteligentes, estão constantemente em perigo e tomam decisões erradas.

É a cultura de beleza que nestes filmes está directamente ligada com o sucesso, no sentido de nenhuma delas terminar a história feliz porque em algum momento foi inteligente (muito pelo contrario), mas sim porque é bonita e teve a sorte de um príncipe aparecer para a salvar. Outro aspecto engraçado prende-se com a resposta à felicidade. Todos os filmes, de princesas, acabam com casamento como apogeu de conquista pessoal, desde os filmes da década de 30 até aos de 2013. Cinderella casa-se porque tem sorte e é bonita, Belle casa-se porque consegue suportar um “homem” que a maltrata, Ariel casa-se porque abdica do seu corpo e família para conhecer o príncipe, Snow White casa-se porque tem sorte, é bonita e prendada… and so on.

É claro que a Disney aparenta esforçar-se para alterar esta cíclica roda da felicidade, como por exemplo em Mulan, em que a “princesa” consegue o seu príncipe pela força e coragem que demonstra. Mas o resultado final cai sempre para o sucesso de ter um homem. Sempre para o sucesso de ficar com o mais bonito porque, também, a princesa é a mais bonita. Esta temática da beleza será analisada mais à frente. Por agora é importante perceber que, aos olhos da Disney, a mulher solteira até avançada idade é constantemente vista como vilã da estória e a mais bonita termina, inevitavelmente, aos braços de um príncipe.

Em The Little Mermaid, Ariel: “But without my voice… how can I…”
Ursula: “You’ll have you’re looks, you’re pretty face, and don’t under estimate the importance of body language!”




Role Models para os meninos:
As mensagens que os filmes Disney se encarregam de entregar às crianças sobre como se deve comportar e como de ser um Homem são bem mais simples. Resumindo em 5 palavras, o homem ideal deve ser rico, bonito, poderoso, dominante e, às vezes, corajoso. Não interessa se é apenas carinhoso ou afável, no final tem de haver casamento, e casamento com um príncipe feio não é casamento Disney.

São infindáveis os casos de personagens masculinas, protagonistas, que apresentam corpos robustos e aparência bonita. Mais serão os casos em que a personagem digna de conquistar a princesa é dominante, poderosa ou simplesmente rica. Claro que há uma ou outra excepção como em Aladdin, mas mesmo nesse exemplo existe um dos elementos do casal que é claramente abastado.

A dominância, poder e riqueza são, por isso, os requisitos primordiais que caracterizam o herói. Herói este, que geralmente acaba por ter de lutar com o vilão para obter a sua recompensa, a princesa. Posto isto, aquilo que define a masculinidade na maioria dos filmes é a batalha pelo amor de uma mulher ou simplesmente pela manutenção de poder.

Ensina às crianças que os homens ideais são poderosos, ricos e dominantes, ilustra a aparência que deve ter um herói e que tipo de recompensa existe para cada tipo de desafio, normalmente a “mão” de uma mulher.

É verdade que ao longo dos anos a produtora tem evoluído na forma como nos apresenta as imagens do feminino e masculino. Tem introduzido melhores e maiores valores às suas obras e, mais importante, tem conseguido conquistar o mundo infantil. Mas a tendência, apesar de ser de ligeira mudança, continua a ilustrar uma cultura conservadora e sexista que delineia vincadamente aquilo que devemos ver no homem e na mulher.



“As aparências Iludem”, menos na Disney:
Um dos aspectos que me faz mais confusão nos filmes Disney é o estereótipo de pessoa bonita=boa pessoa, pessoa feia=má pessoa. Porque é que todos os vilões são representados por pessoas gordas e baixas ou altas e magras mas sempre feias? Não interessa se é um homem ou mulher, se é novo ou se é velho… é sempre feio. O propósito será que as crianças identifiquem com maior facilidade a personagem má? Mas estar a atribuir essas características a personagens com caras feias não vai influenciar a percepção que têm das pessoas? Não será isso errado? A verdade é que já vivo neste planeta há algum tempo e posso com toda a certeza afirmar que existem pessoas más sob todas as formas e feitios. Por isso acho que não deve ser feita esta distinção.

É engraçado que se pegarmos em The Lion King, por exemplo, temos dois irmãos, Mufasa e Scar, não só um deles é elegante e bonito e o outro feio e magricela como parecem ser de raças diferentes. Scar é claramente mais escuro que Mufasa. Não é suposto serem irmãos? Os leões têm todos os mesmo tons de pelo, porque é que Scar é quase preto? Não querendo entrar por outro caminho de análise, também controverso no mundo Disney, vou-me ficar pelos sinais aparentes de beleza.

Aquilo que se vê no típico vilão Disney, seja ele um Deus (como Hades ou Ursula), um animal (como Scar) ou um humano (como Whicked Queen ou Jafar), é um ser solitário, feio e rancoroso. Em contraste o herói é geralmente alguém atraente e bem-sucedido. O que é que acontece aos que não são bonitos? Bem até agora só houve 2 casos, um em Beauty and The Beast e outro em The Hunchback of Notre Dame. No 1º caso o Monstro acaba por transformar-se num belo príncipe e tem um final digno de estória de encantar. No 2º caso, e ao contrário da obra original de Victor Hugo, a Disney entendeu inventar uma personagem masculina que pudesse casar com Esmeralda, neste caso o nosso herói, Corcunda, tem como recompensa poder aparecer em público.



É inquestionável que a beleza toma um lugar especial no mundo Disney. Aliando essa beleza às noções de masculinidade e feminilidade, temos uma verdadeira cultura do género com lugar definido para cada um e papeis que devem desempenhar na sociedade.


Pode parecer que não gostei ou não gosto dos filmes, mas a verdade é que gostei, cresci a ver e continuo a gostar de alguns deles. Gosto bastante do Lion King, Tarzan, Mulan, Hercules e The Hunchback of Notre Dame. Para escrever este artigo dediquei algumas horas e revi as histórias que me marcaram. Da mesma forma que estas obras influenciaram a minha infância, acredito que influenciem a de muitas outras crianças. Por isso, não quero levar este texto a um extremo e dizer que a Disney está a corromper a sociedade. Quero, simplesmente, mostrar que o “carimbo” Disney, nestas e noutras obras, pode não ser o comprovativo de excelência no que toca a transmissão de valores.

Em jeito de despedida, um joguinho de “descobre as diferenças” com alguns dos filmes Disney. Supostamente a reutilização de animação foi com o intuito de poupar algum dinheiro… vindo da mais monopolista empresa de entretenimento de que há memória, fica à reflexão de cada um.




Cumprimentos e até a uma próxima!

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Cinema em cenas #5 – canzonetta sull’aria – The Shawshank Redemption (1994)


Uma das minhas cenas preferidas. Faz-nos pensar, sonhar e sentir livres. Pouco se pode dizer acerca deste cena, apenas ouvir, ver e sentir… 

“It was like some beautiful bird flapped into our drab little cage and made these walls dissolve away, and for the briefest of moments, every last man in Shawshank felt free”

sábado, 12 de abril de 2014

The Grand Budapest Hotel (2013)

Foi maior a surpresa de entrar numa pequena sala de cinema em dia de estreia, pelo menos para mim, do que propriamente ver o que aí viria. É estranho entrar numa sala de uma grande superfície comercial para ver mais um filme de Wes Anderson e notar que se 250 pessoas quisessem ver este filme, teriam de se dividir em 2 sessões.

A verdade é que até acabou por transformar, no bom sentido, a própria experiência de visualização do filme. Grand Budapest Hotel é uma obra passada, como o título indica, num majestoso hotel situado numa república alpina imaginária. Mas essa grandeza não põe em causa o aspecto acolhedor e simpático que o gerente do Hotel tenta manter. Nesse aspecto, o facto de a sala ser de uma dimensão menor e o próprio público não se dar a sms nem escavações de baldes de pipoca, acabou por ajudar bastante a fazer-me sentir parte integrante daquele hotel, daqueles corredores e daquele icónico elevador.

Wes Anderson mostra mais um dos seus trabalhos. Desta vez conta-nos a estória de um Lobby Boy e da sua relação duradoura com o inigualável concierge do majestoso Grand Budapest Hotel. Uma ligação construída, desde o 1º dia, sob o olhar do espectador, com as lições, clichés e aventuras de um bom romance, narrado por Zero Moustafa, o recém-chegado Lobby Boy e actual proprietário do Grand Budapest.


Para quem nunca viu um filme de Wes Anderson, deve compreender que este realizador em particular tem um estilo narrativo bastante distinto do comum filme de domingo à tarde na tv. Neste caso, esse estilo saiu aprimorado. Vemos uma obra bastante apelativa ao olhar, como não podia deixar de ser em Wes, parece que estamos perante um autêntico Eye Candy. Cenários absolutamente extraordinários, planos e sequências perfeitamente orquestradas e imaginadas, screenplay de qualidade incontestável e claro, o cast, como sempre, a cereja no topo do bolo. Participam na obra nomes como Ralph Fiennes, AdrienBrody, Willem Dafoe, Bill Murray, Jude Law, Tilda Swinton, Saoirse Ronan, Edward Norton, F.Murray Abraham e o estreante Tony Revolori.


É um dos melhores trabalhos de Anderson, um dos mais cómicos e um dos mais carismáticos. Talvez pela perfeita harmonia entre personagens, desenvolvimento narrativo e construção dos cenários. Estava à espera de ver um filme de Wes Anderson e, sem surpresas, foi o que aconteceu.

“Keep your ands off my lobby boy!” Ralph Fiennes as Gustave H. the concierge




sexta-feira, 4 de abril de 2014

Frozen (2013)


Já não me considerava um grande fã dos últimos trabalhos da Disney, muito por culpa de comparação com as suas eternas obras de animação, como pela resposta que a produtora teve ao aparecimento da sua gigante concorrente Pixar. Mas a verdade é que 2 dos seus últimos trabalhos, mais exactamente Tangled e Wreck-It Ralph, foram bastante surpreendentes. Aliando essa surpresa com a entrega de um Óscar de melhor filme de animação a Frozen fez com que fosse impossível ignorar mais uma vez o trabalho de animação da mítica produtora de sonhos e fantasias. Tive de ver o filme.

Foi uma perda de tempo. Muito sinceramente, foi dos piores filmes de animação que vi. Aquilo a que assisti foi sem dúvida um muito bom trabalho de animação, criativo, com construção e design de personagens, e um mundo bastante apelativo e fantástico. Mas não será esse o trabalho de qualquer produtora que se preze? Não será esse um dos requisitos mínimos de um bom filme de animação? Qual deveria ter sido a ponte a ligar este filme a um bom filme de animação?

A resposta estaria no plot, no argumento, na mensagem, na Estória!


Frozen, apresenta o seu verdadeiro trunfo nas músicas mas mesmo nessa matéria a obra conseguiu ser tão fraca em comparação com obras como Beauty And The Beast, The Lion King e mesmo a mais recente Tangled, que não foi de todo aquilo que a suportou. As músicas, à excepção de “Let It Go”, são impressionantes fiascos, no sentido em que não contribuem absolutamente nada para o desenvolvimento da estória. De realçar dois momentos em especial: A primeira cena, em que temos um momento musical com trabalhadores a contar gelo com um música bastante viva mas que nada contribui para o plot. E um segundo, terrível, em que vemos Olaf (boneco de neve) interromper toda a storyline para ter um momento para si e cantar qualquer coisa que lhe apeteceu, tudo para justificarem uma personagem atirada de pára-quedas para o meio do conto só para introduzirem alguma comédia.


Depois de ver este filme, dediquei alguns minutos e fui comparar as letras das músicas com as letras dos clássicos que descrevi acima. Cheguei à conclusão que as letras foram escritas alguns meses antes de saberem sequer qual era a estória que estavam a desenvolver, tal era a discrepância com o argumento da obra.

E por falar em argumento. Frozen apresenta um verdadeiro Cliché de argumento. Uma estória de princesas, inocentes, sem pai nem mãe, separadas, com uma evidente carência de afecto… até o vilão do conto consegue ser a personagem mais previsível de todo o filme. É um estória que, depois do filme acabar, após pequena reflexão podemos concluir que nada trouxe de novo, nada ensinou e nenhuma mensagem partilhou com o seu público-alvo, as crianças. Sendo este “público” outro dos pontos fracos de filme, no sentido em que é o 1º filme de animação que vejo (com esta dimensão) que não apresenta um estímulo decente para um público mais adulto. Tudo porque o seu conteúdo consegue ser tão “barato” e fácil que serve apenas o propósito de encantar as crianças. E não, o cinema de animação NÃO É cinema exclusivamente para crianças, é feito com o propósito de fazer os pais levarem as crianças ao cinema para verem uma obra que se quer no mínimo didáctica.



Peguem em qualquer obra, mais comercial, de animação feita nos últimos 10 - 15 anos, vejam o Ice Age, How to Train your Dragon, Nemo, ToyStory ou a Viagem de Chihiro. Vejam ou revejam os clássicos Disney e NÃO desperdicem as obras do Mestre Miyazaki. Certamente vão ter uma evidente linha de comparação entre a mensagem entregue nessas obras e aquilo que foi feito em Frozen.