A ambição de Spike Jonze (realizador e argumentista) é
tão grande quanto o tema a que se compromete a abordar em Her. Apresenta-nos uma obra difícil de imaginar
e, possivelmente, ainda mais complicada de executar, pela sua temática tão
sentimental e abstracta como o amor, principalmente o amor enquanto paixão,
atracção, carinho e sensualidade complicada de definir que sentimos por outro
ser humano. Aqui será “humano” a nossa palavra-chave, uma vez que Jonze cria um
mundo futurístico, não longínquo, em que o homem caminha para um universo despido
de afecto, relações e interacções sociais entre seres-humanos. (Um pequeno
exercício para quem ainda não viu: tentem encontrar, no filme, um grupo de
pessoas com mais de 3 elementos)
Theodore (Joaquin Phoenix) é um criativo que trabalha
escrevendo cartas de amor endereçadas a estranhos por encomenda dos seus
parceiros. Constrói relações através das suas palavras e ao mesmo tempo vive na
solidão e melancolia de uma recente separação ainda custosa de atravessar.
Aquando da actualização do seu sistema operativo (OS), agora inventada a inteligência
artificial para OS’s, fecha-se a janela da solidão. Conhece Samantha (brilhante
Scarlett Johansson), o sistema inteligente adaptado à sua personalidade, que procura corresponder e assegurar todas as necessidades
emotivas e sociais de Theo. Acabando os dois, por culpa da necessidade e procura humana de afecto, por se apaixonar.
O filme transporta-nos para um universo futuro e
podemos chamar ao seu género Sci-fi, mas é importante perceber que aquilo que
Jonze faz é diferente daquilo que foi mostrado ao longo de anos deste género
cinematográfico. Não temos carros voadores, conquistas do espaço, monstros dos
confins do universo ou robots psicopatas, temos sim um ensaio da
relação humana e onde nos encontraremos enquanto ser. Ao ver a peça
é inevitável pensar em inúmeras outras obras em que os intervenientes,
também personagens dotadas de inteligência artificial, procuram um toque e um
tratamento mais próximo do que é o amor e as sensações do ser humano. Filmes
como Blade Runner (1982) ou AI (2001) tocam na temática das necessidades
humanas do amor, carinho e afecto ou simplesmente aceitação enquanto
identidades diferentes. Mas o que é feito em Her consegue percorrer um outro
caminho, não só porque a nossa OS não assume uma forma física mas porque
consegue explicar o quão cada vez mais nos aproximamos de uma civilização
despromovida de interacção corporal entre humanos.
Não é difícil pensarmos
em como as redes sociais e todas as formas de comunicação moderna já mudaram a
forma como nos relacionamos com o mundo e com amigos, por isso, acho que o
exercício mais importante deixado por esta obra de Spike Jonze é a reflexão.
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