Para
quem ainda não tinha visto qualquer filme de
Linklater até há dois meses atrás, como foi o meu caso, esta descoberta do
autor pode ser fascinante. O realizador americano é alma, coração, nata
absoluta na representação de vida, fases da vida e momentos fulcrais no
desenvolvimento humano. Mas tudo com contraste na simplicidade e importância de
cada etapa.
Esta ambição de Linklater é uma vez mais comprovada através
de Boyhood. Neste seu novo projecto no qual acompanha o crescimento e
desenvolvimento de Mason desde os 6 anos de idade até aos 18, Linklater e tenta recriar os sentimentos, pensamentos, vivências, experiências e relações
que fazem parte desta longa e tenebrosa transição até à vida adulta.
Boyhood conta a história da vida de Mason mas encontra-se e
procura identificar-se com o maior número de pessoas possível. É um filme que
toca a todos e que não pode deixar ninguém indiferente. Provavelmente tudo isto
é culpa da sua simplicidade, principalmente na forma como retrata os episódios
da vida. Com ritmos bastante distintos ao longo do filme que lutam por ilustrar
a instabilidade de humores na vida, que não é nem deve ser um mar de rosas.
Quanto mais penso no filme mais me apercebo da sua grandeza.
Durante quase metade do filme tive dificuldade em perceber se era mesmo a
história de vida de Mason ou se estávamos só a observar uma família. Mas até aqui
Linklater foi genial. O início da nossa vida é rodeado por pessoas, sejam elas irmãos, pais, primos ou amigos. Essa dependência de outros vai desaparecendo e
vamos procurando o nosso espaço, o nosso lugar e as pessoas com as quais mais
nos identificamos. Tudo isto é brilhantemente, embora de forma subtil,
evidenciado em Boyhood. À medida que Mason vai crescendo vamos vendo-o mais e
mais independente, mais sozinho e determinado nos seus pensamentos. A pouco e
pouco vai conquistando o seu lugar enquanto verdadeiro protagonista do filme.
Tal qual como na vida de todos nós em que esse protagonismo pode/deve ser
conquistado.
Boyhood foi, para mim, um verdadeiro espelho. E foi por isso
mesmo que o achei genial. À obra e ao autor, que através do retrato mais
simplista conseguiu encontrar e resolver a complexidade de ilustrar o
crescimento e transição de uma criança para um jovem adulto de forma brilhante.
Mason: “I wish I could use the
bumpers...”
Dad: “You don't want the bumpers,
life doesn't give you bumpers.”