quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

12 Years a Slave (2013)



Mais um filme sobre segregação racial nos EUA e mais uma história verídica que acaba bem. Mas será só isso? Será mais um filme familiar para ver sentado num sofá domingo à tarde? Vamos ver…
12 Years a Slave conta-nos a história de Solomon Northup, um Afro-Americano livre que depois de burlado vê a sua liberdade existir apenas na possibilidade de respirar. É levado para o mercado dos escravos e acaba nas plantações do sul dos EUA para trabalhar até ao dia em que eventualmente morrerá. Sabendo nós que a história é verídica e que o senhor acabou por publicar um livro, podemos concluir de início que no final do filme ele reencontra a sua família.
A verdade é que Steve McQueen não pega neste filme para contar uma história. Aquilo que faz é tentar pegar no espectador e colocá-lo o mais perto possível do lugar do Solomon (agora chamado Platt). Sem sentir-mos dor física, isso só será possível através de dor emocional e psicológica. Tudo isso através de cenas de uma intensidade violenta brutal, acompanhadas por uma banda-sonora desconfortante, que fazem qualquer pessoa querer virar o olhar e desejar que tudo aquilo acabe. É um filme difícil de engolir, digamos assim, é difícil acreditar que tal acontecesse há menos de 2 séculos atrás. Mas só é assim porque o trabalho de Steve McQueen atrás das câmaras é inegavelmente brilhante e consegue transportar-nos para aquela dimensão de sofrimento. Cheguei a querer desviar o olhar pela violência a que estava a assistir, mas acabei por ficar, hipnotizado, a apreciar o trabalho do realizador. O uso de takes prolongados traduzem uma coordenação brilhante e só seria possível com o uso destes actores.


O cast utilizado neste filme é electrizante. A cada capítulo que passa vemos actor atrás de actor, a aparecer e a terminar a sua personagem com uma contribuição cada vez mais preciosa para a construção desta obra. Paul Giamatti, Paul Dano, Benedict Cumberbatch, Michael Fassbender, Brad Pitt e claro o protagonista interpretado por Chiwetel Ejiofort. Este último, com aquela que será sem dúvida a performance do ano (2013) e com a qual, provavelmente, arrecadará a estatueta mais desejada da temporada. Porquê? Basta ver a sua expressão facial constante, de uma tensão tal que nem o permite mover-se dentro da sua livre personalidade. É de reparar numas das principais cenas de todo o filme, quando um dos escravos é enterrado, o “funeral” dá-se entre os trabalhadores com uma cerimónia humilde ao som do Gospel. Solomon ouve calado, mas à medida que a música cresce ele sente a necessidade de transportar toda a dor que carrega e acaba por se entregar aos cânticos, numa cena memorável em que é perfeitamente visível a dor, agonia e desespero de Platt.
É um filme pesado onde a pipoca do cinema não têm lugar. É intenso, desconfortante, revoltante, triste e não pode ser comparado a qualquer outro filme do género. Para mim, uma verdadeira obra-prima do cinema. Mas cuidado… não é fácil de engolir!


★★★★★

1 comentário:

  1. Spoilers.


    Nós somos testemunhas e nada fazemos para alterar a sua situação.
    E quando o olhar dele caiu sobre mim, senti vergonha...
    Prémios valem o que valem, que o filme seja visto é que interessa.
    Dificilmente alguém sai da experiência igual.
    Como disse a Amy Poehler, "faz nos ver a Escravatura com outros olhos"...

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