A magia intrínseca nas obras de Miyazaki
é incontestável. Acontece não só pela fantasia narrativa de cada peça e cada
frame, como pela intencional aproximação a temas não tocados em outras obras de
animação. Mais uma vez isso acaba por acontecer em Mononoke-Hime (Princess
Mononoke) onde Miyazaki demonstra, na sua maneira sublime, o impacto nefasto da
exploração humana dos recursos naturais numa era que se aproxima do início da
revolução industrial japonesa.
Ashitaka procura a cura de uma doença/vírus/praga mortal que
assola a sua região e acaba, enquanto viaja, por se deparar com uma guerra aberta
entre os deuses da floresta e a cidade de Tatara. Liderada por Lady Eboshi,
Tatara é uma colónia mineira com um imenso poder conseguido através do seu
armamento de fogo, nitidamente sofisticado para a altura. Tão complexo quanto a
ambição que Eboshi tem em vir a governar o mundo sem olhar a meios para
alcançar os fins. Mesmo que isso passe por aniquilar toda a floresta e os seus
deuses animais, gigantes dotados de capacidades ultranaturais.
É notória a mensagem complexa (ou não) inerente a esta obra
intemporal do Mestre japonês. A crítica ao voraz consumo do planeta e o nosso
impacto nos recursos imateriais e limitados que consumimos desmesuradamente. É
uma verdadeira obra-de-arte da animação que parece mais direccionada para
adultos do que para crianças, mas que se for bem pensada até que nem é má ideia
começar por introduzir este tema desde tenras idades.
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